A receita de ‘Bala love’: funk de BH domina o Brasil

  • A receita de ‘Bala love’: funk de BH domina o Brasil

    funk-bh-1

    O funk mais tocado no Brasil atualmente é “Bala love”, do MC Anjim. Ele tomou o lugar do número 1 anterior, “Não nasceu pra namorar”, do MC Zaquin. Os diminutivos nos nomes entregam a origem comum: o funk de Belo Horizonte comeu “quietim” e ganhou o Brasil.

    O podcast g1 ouviu explica o som “brisado” dos mineiros e conversa com os músicos que criaram essa batida viajada, que todo mundo quer dançar em desafios no TikTok e copiar no resto do Brasil. Ouça abaixo.

    Os DJs criaram uma levada lenta e envolvente com uma variedade incrível de sons: barulho de latinha, chiado, violino recortado, flauta sintetizada, toque de telefone, gritinho de Bob Esponja, Pikachu e Pica-Pau, luta de Mortal Kombat, King of Fighters…

    O “pique BH” nasceu de uma cena menos prestigiada que a de SP e do Rio, mas cheia de músicos sagazes para transformar qualquer coisa em um funk original com melodias ricas. Agora os paulistas copiam esse som, como no hit “Bipolar”, feito 100% na receita mineira.

    Hoje, BH renova e domina o funk brasileiro. Mas o ritmo está longe de ser novo na cidade, onde os bailes funk rolam desde os anos 80. Mesmo a novíssima geração tem precedentes conhecidos, com sucessos nacionais que demarcaram o seu território.

    Em 2015, o MC Delano lançou “Na ponta ela fica”. Delano é apontado por dez entre dez funkeiros como padrinho da nova cena da cidade, com sua marca melódica, lenta, e sem medo de misturas. Seus “alunos” de BH aplicaram as lições de um jeito bem livre.

    “Parado no bailão” foi um dos maiores sucessos na internet de 2018. Os cantores são o mineiro L Da Vinte e o paulista Gury, com dois produtores de BH: Swat e o próprio Delano. O g1 mostrou na época como a faixa projetou as batidas “espaciais” de BH para o Brasil.

    Mas “Parado no bailão” ainda tinha uma mineiridade contida e amenizada com doses do som padrão dos paulistas da época. Já havia discípulos de Delano mais ousados, como o MC Rick, reconhecido já na época como a grande voz da nova cena mineira.

    MC Rick é áspero na voz e nas letras sexuais – o tema é livre e solto nas letras de BH. Ele canta e produz desde cedo, apadrinhado por Delano.

    O início foi no Morro do Papagaio, na Zona Sul de BH. O pequeno Rick emplacou “Sarrou, gostou”, com produção do seu mentor, em 2014.

    O som ainda não era tão distinto e a voz não tinha a marca do Rick. Mas ele já era ligeiro e aprendeu com o Delano a produzir. MC Rick levou três anos para emplacar outra música. E também demorou a achar sua voz depois da fase mirim.

    “Minha voz foi mudando, eu estava começando a desafinar as melodias. Fiz aula de canto, mas eu não gostava. Aí comecei a descobrir meu pique, fui apropriando para um jeito que ficava bom. Cheguei nesse pique reto”.

    Rick diz que ouviu muito rap até achar a levada de hits como “Nada vai mudar” e “Quebra quebra menozada”. Apesar de agressivo, o vocal não é duro. Em música como “Mec mec”, como se fosse um João Gilberto funkeiro, ele adianta e acelera os versos e desliza no ritmo.