Alcione e Criolo surpreendem em live quando vão além dos clássicos dos repertórios dos artistas

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    O título da live que juntou Alcione e Criolo em cena pela primeira vez, Clássicos do samba 2, sugeriu passeio por standards do gênero musical ao qual à cantora maranhense é associada, desde que foi apresentada ao Brasil em 1975 com o álbum A voz do samba, e pelo qual o rapper paulistano transita com frequência desde que foi projetado nacionalmente em 2011, já tendo inclusive gravado álbum, Espiral de ilusão (2017), pautado pela cadência bonita do samba.

    De fato, houve um ou outro clássico do gênero entre as 20 músicas do roteiro do show transmitido ao vivo na noite de sábado, 22 de maio, pelo canal de TV Multishow e pelo canal oficial da empresa Mastercard Brasil no YouTube.

    Com pouca interação vocal, Alcione e Criolo cantaram Retalhos de cetim (Benito Di Paula, 1973) e Juízo final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, 1973), por exemplo. Sozinha, Alcione também deu voz ao samba-canção Trocando em miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977) sem desenvolver dueto como Criolo, como já fizera certa vez com o amigo Emilio Santiago (1946 – 2013).

    No entanto, o roteiro da live basicamente equilibrou sucessos dos repertórios dos dois artistas. Alcione ecoou as dores amorosas de Sufoco (Chico da Silva e Antonio José, 1977), caiu no suingue sensual de Meu ébano (Nenéo e Paulinho Resende, 2005) e refez a súplica de Não deixe o samba morrer (Edson Conceição e Aloísio Silva, 1975) entre as inevitáveis baladas como A loba (Paulinho Resende e Juninho Penalva, 2001) e Você me vira a cabeça (Me tira do sério) (Chico Roque e Paulo Sérgio Valle, 2001).

    Já Criolo fez Fermento pra massa (Criolo, 2014) – partido alto apresentado pelo rapper no terceiro álbum, Convoque seu Buda (2014) – entre sambas autorais do já mencionado álbum Espiral de ilusão.

    Da cartola deste grande disco, Criolo tirou coelhos como Dilúvio de solidãoLá vem você e Nas águas, cantados pelo autor com sutis acompanhamentos vocais de Alcione.

    Além da interação vocal, faltou química entre os cantores. Só que, aliados à boa qualidade da maior parte do repertório, os cantos individualizados dos artistas e a excelência tradicional dos arranjos – criados por Zé Ricardo (idealizador e diretor artístico da live) com tecladista Maurício Piasarollo e executados por banda de virtuoses como Alceu Maia (cavaquinho) e Armando Marçal (percussão) – resultaram em show de alto nível que surpreendeu mais quando Alcione e Criolo se afastaram do terreirão do samba e dos respectivos repertórios próprios.

    Ele sobressaiu pela notável afinação ao abordar músicas alheias. Já acima do bem e do mal, ela desfrutou do status de entidade da música brasileira. E foi com esse status que, com o toque dramático dos teclados de Maurício Piasarollo, a Marrom refez a saudação de Gracias a la vida (Violeta Parra, 1966) com a habitual categoria que faz de Alcione uma das cantoras mais singulares do mundo.

    Em número solo, com arranjo vestido no mesmo tom de bolero, o rapper reverberou o desespero passional de Que será? (Mário Rossi e Marino Pinto, 1950), afiado originalmente pela lâmina vocal de Dalva de Oliveira (1917 – 1972), diva da era do rádio.

    Enfim, juntos e separados, Alcione e Criolo deram vozes aos sentimentos do mundo amoroso de sambas e boleros em live afinada com a necessidade de angariar recursos para combater a fome que assola o Brasil.