Marcia Castro recupera a cor do canto ao revitalizar a ‘baianidade nagô’ no radiante álbum ‘Axé’

  • Marcia Castro recupera a cor do canto ao revitalizar a ‘baianidade nagô’ no radiante álbum ‘Axé’

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    Com a edição de Axé, Marcia Castro apresenta enfim um disco luminoso, grandioso, à altura da artista que apareceu há 14 anos com Pecadinho (2007), álbum que conquistou seguidores ao apresentar cantora cheia de verve e personalidade.

    Revertendo expectativas após a estreia promissora, Castro teve o canto abafado pelos excessos de produção do álbum De pés no chão (2012) e empalidecido pela opacidade do som orquestrado por Gui Amabis no disco seguinte, Das coisas que surgem (2014).

    O processo de diluição da discografia e da personalidade artística da cantora baiana – residente na cidade de São Paulo (SP) – culminou com a sensualidade artificial do álbum Treta(2017).

    Lançado na quinta-feira, 21 de outubro, Axé é disco radiante que devolve cor ao canto de Castro, pedindo passagem para o verão, para o Carnaval e para a vida que já começa a pulsar latejante no Brasil com o arrefecimento da pandemia.

    Com edição em LP prevista para 2022, com as dez músicas inéditas alocadas na ordem em que foram idealizadas para o vinil (disposição seguida na edição digital), o álbum Axé tem a marca bem-sucedida do diretor artístico de Marcus Preto, nome fundamental na manutenção da chama reacendida por Gal Costa há dez anos com o álbum Recanto (2011).

    Essa marca fica visível sobretudo na arregimentação de (ótimo) repertório inédito que cumpre bem a função de evocar sem saudosismo a era de ouro da música afro-pop-caribenha produzida na Bahia nos anos 1980 e 1990 com o rótulo de axé music – gênero musical calcado na alegria, amado pelo povo brasileiro e rejeitado pela parcela dos críticos que delimitam fronteiras sonoras elitistas.

    Guiada por Preto, Castro celebra e atualiza a baianidade nagô exaltada com orgulho pelo compositor Evandro Rodrigues, o Evany, na música intitulada justamente Baianidade nagô e lançada há 30 anos pela banda Mel no álbum Negra (1991).

    O conjunto das dez músicas inéditas monta painel de referências na arquitetura da axé music em gravações arejadas feitas com produção musical repartida entre Letieres Leite e Lucas Santtana.

    Baianos de gerações e formações distintas, Letieres e Lucas deixaram diferenças estilísticas de lado – a julgar pelas audições das dez faixas – para dar forma a um disco costurado com referências do passado e do presente sem perda da unidade.